Afinal, a taça faz diferença?

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Você provavelmente já se deparou com inúmeros tipos de taças por aí. Taças maiores e menores, com diferentes formatos de bojo e feitas de materiais diversos. Mas na hora de degustar aquele vinho especial, será que a taça utilizada realmente faz diferença? A resposta é sim!

Da mesma forma que alguns tipos de roupa podem valorizar (ou desvalorizar) os atributos físicos de quem a veste, a taça certa pode aguçar os aromas e destacar os sabores do vinho, “valorizando” e muito a degustação!

Então, como deve ser a taça ideal?

 

A taça adequada para vinho deve possuir algumas características básicas:

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  • deve ser transparente (para permitir a perfeita análise visual do vinho),
  • ter uma haste para segurar (e o calor da mão não aquecer o líquido) e uma base para apoiar sobre a mesa,
  • um bojo com base mais larga (para o vinho “respirar” e liberar seus aromas) e boca mais estreita (para concentrar os aromas no nariz)
  • e bordas finas, não arredondadas (para que o fluxo de vinho seja naturalmente direcionado para o centro da língua e ressalte simultaneamente o buquê, a textura e o sabor ).

O material do qual é feito a taça pode variar, mas o cristal é o preferido: mais fino, leve e delicado que o vidro comum. Leva em sua composição cerca de 24% de chumbo (óxido de chumbo) o que confere menor espessura, maior transparência, brilho e sonoridade. Além disso, tem maior porosidade e, ao se girar a taça, mais moléculas do vinho se quebram no atrito contra a parede, liberando mais aromas.

As taças de vidro, sem chumbo na composição, ou de “cristais” com menor proporção de chumbo (variando em torno de 10%), são opções mais baratas, mas também mais pesadas e grosseiras. Para os mais estabanados existem as taças de cristal de titânio (a linha Tritan da alemã Schott Zwiesel), muito mais resistentes a pequenas batidas e quedas, e podem ir à maquina lava-louças!

 

Os tipos básicos de taças

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Quanto ao formato das taças, alguns estudiosos do assunto (sim, existe gente que estuda taças) advogam que cada tipo de vinho deve ser degustado em uma taça específica, desenhada especialmente para ressaltar seus atributos. Assim, é possível encontrar algumas centenas de taças diferentes no portfólio das grandes marcas como a Riedel e a Spiegelau.

Esse purismo, no entanto, é totalmente desnecessário! Para uma boa degustação é suficiente que se tenha apenas 3 tipos de taças: uma para brancos, uma taça Bordeaux para os tintos e uma flûte (ou tulipa) para espumantes. Mas como um enófilo é um apaixonado pelas sutilezas e detalhes do vinho, eu recomendo mais duas taças para o acervo: uma segunda taça para vinhos tintos (a Borgonha, de preferência) e uma taça para vinhos doces e fortificados.

 

Para vinhos tintos:

Vinhos tintos possuem aromas e taninos mais intensos. Por isso, a taça para vinho tinto deve permitir uma boa superfície de contato do vinho com o ar, permitindo a ele “respirar” e liberar seus aromas e sabores. As mais usadas são as taças Bordeaux e as Borgonha.

bordeaux_4400135Bordeaux: são taças de bojo grande e boca mais fechada, para concentrar os aromas. As bordas são afiladas de maneira a direcionar o vinho para a parte anterior da língua e permitir que a doçura da fruta seja percebida antes que os taninos (na parte de trás da boca). São indicadas para vinhos mais encorpados e tânicos, como os Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec, Syrah, Tannat, Sangiovese…

7768-869437-pBorgonha: são taças de bojo mais largo que as Bordeaux, permitindo maior superfície de oxigenação do vinho e maior expressão do buquê. As bordas mais abertas direcionam o vinho para o palato médio, equilibrando a acidez e valorizando os aromas de boca mais complexos. São a escolha certa para vinhos delicados e complexos, como aqueles os Borgonhas (à base de Pinot Noir), Barolos, Barbarescos, Amarones e Riojas…

 

Para vinhos brancos e rosés:

Como os vinhos brancos e rosados devem ser degustados mais frios que os tintos, as taças para esses vinhos devem ser menores para preservar a temperatura (menos trocas de calor com o ambiente).Em geral, utiliza-se a mesma taça para ambos mas algumas marcas fazem modelos específicos.

whitewine_4400102O formato da taça para vinho branco é semelhante à taça Bordeaux, com boca estreita para concentrar aromas frutados e florais, e abas (bordas) finas para direcionar o fluxo de vinho através da parte anterior da língua, em busca de equilíbrio entre doçura e acidez. Como os vinhos rosés possuem taninos, suas taças são ligeiramente menores, mas com bojos maiores.

 

Para vinhos espumantes e Champagne:

sparklingwine_4400107A taça para vinhos espumantes é fina e alta, com bojo discreto, chamada de flûte (ou flauta). O aspecto alongado direciona a efervescência e os aromas ao nariz e entrega o fluxo de vinho à parte media da língua, de forma a manter o equilíbrio entre acidez e fruta. Também permite que seja apreciado o perlage do vinho (suas borbulhas) subindo pela taça.

O bojo, ainda que discreto, permite ao espumante “respirar” e realça seus os aromas. Por isso, alguns sommeliers sugerem o uso de taças de vinho branco para os espumantes com maior complexidade e estrutura, deixando as flûtes para os espumantes mais simples.

champagneflute_4400129Recentemente, produtores e experts, sobretudo da região de Champagne, tem optado por um novo formato de taça para espumantes: a tulipa. Com base ovalada e abertura estreita, como a flor que dá seu nome, essa taça alia uma boa coluna líquida (que favorece o perlage) com um bojo mais amplo, ideal para desenvolver as complexidades do vinho.

perfect_serve_coll_4500174À título de curiosidade, existe também a famosa taça Coupe, arredondada e de bojo baixo, atualmente em desuso. Diz a lenda que foi moldada no seio de Maria Antonieta. Devido à sua forma, dissipa facilmente os aromas e a perlage, e esquenta mais rapidamente o espumante. Muito utilizada até a década de 1960, o próprio Comitê de Champagne chegou a proibi-la em suas normativas, mais ainda é encontrada devido ao seu estilo vintage”.

 

Para vinhos de sobremesa e fortificados:

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São taças menores pois os vinhos fortificados e doces são consumidos em menor quantidade. Seu design lembra uma pequena tulipa, mas com a boca mais estreita e bordas bem finas. A abertura estreita conduz o fluxo da bebida para o fundo da boca, de maneira a não ressaltar a já elevada doçura dos vinhos de sobremesa. Para vinhos fortificados, como Porto, Jérez e Marsala, a abertura da boca é ligeiramente maior, afim de direcionar o fluxo à ponta da língua e enfatizar a doçura (que equilibra o álcool).

 

A taça ISO

foto-taca-isoPensando na grande dificuldade em dispor de tantas taças diferentes na hora das degustações técnicas, a International Standards Organization decidiu padronizar uma taça para análise sensorial de todos os tipos de vinhos. Após anos de pesquisas, em 1970 surgiu a taça ISO que, na prática, serve como taça “coringa” para os diferentes tipos e estilos de vinho. Seu formato é basicamente o da taça Bordeaux, mas com tamanho reduzido. Deve ser de “cristal” com 9% de chumbo, totalmente transparente e incolor, e sem relevos ou detalhes. É a taça padrão em degustações mundo à fora e um dos melhores modelos para começar seu acervo.

 

Cuidando das taças

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As taças para vinhos, sobretudo as de cristal, são objetos delicados e necessitam cuidados especiais para que continuem entregando o melhor do vinho ao degustador e enriquecendo a experiência de beber tão precioso líquido! Além disso, as de grandes marcas podem ser tão caras quanto uma garrafa de vinho.

Na hora de lavá-las, recomenda-se lavar à mão apenas com água morna, ou com um mínimo de detergente neutro. Se for usado detergente, a taça deve ser abundantemente enxaguada pois qualquer resquício deste pode alterar o aroma e o sabor do vinho, ou impedir a formação das borbulhas nos espumantes. Devem ser secas com um pano limpo imediatamente após a lavagem, e então guardadas em pé em local livre de poeira ou odores. Embora as taças de cristal com titânio sejam resistentes à máquina-de-lavar-louças, estas devem ser evitadas devido aos fortes sabões e secantes que deixam manchas e odores desagradáveis.

 

 

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A “febre do Vinho Rosé”

 

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Enquanto o Brasil vive seu inverno tropical, no hemisfério Norte o calor e os dias longos e ensolarados do verão são um convite irrecusável para tardes à beira da piscina, fins-de-semana na praia e jantares ao ar livre. Para os amantes do vinho, essa é a época perfeita para se degustar um belo vinho rosé.

O consumo de vinho rosé experimentou um aumento significativo na última década, na maior parte do mundo. Talvez seja graças às elegantes características desse vinho e sua alta drinkability; talvez seja o glamour evocado pela presença crescente nos filmes e nas mídias em geral… Talvez seja o aquecimento global que tem trazido uma maior sede de brancos e rosés… O fato é que a presença do vinho rosé nas mesas e taças mundo a fora já virou tendência, e tende a aumentar.

Segundo dados do Instituto Internacional da Vinha e do Vinho, 22,7mhl (milhões de hectolitros) de vinhos rosés foram consumidos no mundo em 2014. Isso sem contar os espumantes rosés. Proporcionalmente, equivale apenas a 10,3% dos total de vinho consumido naquele ano (235,7mhl). No entanto, esse número representa um aumento de 20% no consumo de rosés ao longo dos últimos 12 anos! Mais do que qualquer outro tipo de bebida!

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Essa “febre”de consumo de vinhos rosés é liderada pela França e pelos Estados Unidos, os maiores consumidores globais, com 8,1 e 3,2mhl respectivamente. Juntos esses países consomem metade dos vinhos rosés do mundo!

Na França, o consumo de rosés já representa mais de 30% do consumo total de vinho. E desde 2002 o consumo desse tipo de vinho aumentou 43%. O mesmo se observa em outros países que tradicionalmente nunca foram grandes consumidores de rosés e que estão “descobrindo”esse néctar nos últimos anos, como Canadá (aumento de 120% no consumo), Reino Unido (250%), Hong-Kong (250%) e Suécia (750%). Outro dado interessante: na Tunísia e no Uruguai o consumo de vinho rosé já equivale praticamente a metade do consumo total de vinhos, e tem aumentado.

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Apenas poucos países apresentaram queda no consumo de vinho rosé nos últimos anos, dentre eles Itália, Espanha e Portugal. O motivo, provavelmente, se deve ao fato destes já serem históricos consumidores de vinhos, e principalmente dos vinhos rosés, e já terem atingido certo “equilíbrio” de consumo. A crise econômica pela qual passa a Europa, principalmente nesses três países, também tem influência. A queda, no entanto, não é intensa e provavelmente é passageira.

Outros dados interessantes sobre a chamada “febre dos vinhos rosés” dizem respeito ao perfil de consumidor.

O consumo global de vinho rosé tem aumentado graças ao segmento mais jovem da população em idade legal de consumo. A porcentagem de consumo de vinho rosé é, em média, 10% superior entre os bebedores mais jovens em todos os países pesquisados: Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, Finlândia, Japão, Nova Zelândia, Países Baixos, Reino Unido, Suécia, Rússia, Brasil e China. Como sempre, os mais jovens são mais abertos à mudanças nos hábitos de consumo. Na França esse fenômeno também ocorre mas é menos intenso, e o consumo de vinho rosé por faixa etária é mais homogêneo.

Na maioria dos países, observou-se que as mulheres consomem mais vinhos rosé que os homens. Na Alemanha e nos Países Baixos a diferença chega a 6%. Algumas exceções são os Estados Unidos, Rússia e Austrália onde a proporção de consumo é a mesma entre os gêneros. O Brasil é a grande surpresa: os homens consomem 4% mais vinho rosé que as mulheres!

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Depois de todos esse dados indicando que o vinho rosé tem cada vez mais caído no gosto dos consumidores de vinho, surge uma preocupação: será que a produção de rosés dá conta dessa febre de consumo? A resposta, felizmente, é sim. Os produtores de vinho rosé já previram esse aumento no consumo anos atrás e tem acompanhado essa tendência com um aumento de produção. Dados também indicam o aumento do comércio internacional de vinhos rosés, já que os países que mais os consomem não são os que mais os produzem…

Mas isso é conversa para um outro post, num outro momento. Agora curta nossa página, feche o computador e abra uma bela garrafa de vinho rosé… Saúde!